Nana-nana da guerra (outubro 1914)
Trilussa (Carlo Alberto Salustri, 1871-1950) desde "Lupi e agnelli", (Lobos e cordeiros) 1919

Dorme menino, menino dorme, este bebê quer a teta,
dorme dorme, meu amor, senão vou chamar Farfarello
1,
Farfarello e Guilhermão
2 que põe-se de gatas,
Guilhermão e Chico Zeca
3 que segura-se com as cunhas;
com as cunhas dum império meio amarelo e meio preto
4;
Dorme dorme, adormece-te que si dormes não verás
tantas infâmias e tantos sarilhos que acontecem no mundo,
entre espadas e espingardas dos povos civis.
Dorme dorme, tu não ouve os suspiros e os lamentos
do povo que massacra-se por um maluco que manda;
massacra-se e mata-se em proveito da raça,
ou em proveito duma fé por um Deus que não vê-se,
mas que serve como abrigo ao Soberano carniceiro;
que aquele cóio de assassinos que ensanguenta a terra
sabe bem que a guerra é um grande gíro de dinheiro
que prepara os recursos pelos ladrões das bolsas.
Dorme, meu tesouro, até que dura esta chacina:
dorme, que amanhã tornaremos a ver os soberanos
que trocam-se a estima, bons amigos como antes;
são primos, e entre parentes não fazem-se cerimónias,
voltaram mais cordiais as relações pessoais.
E reunidos entre eles, sem sombra de remorso,
farão-nos um lindo discurso sobre a paz e o trabalho
por aquele povo néscio poupado pelo canhão!

NOTAS: 1. o diabo; 2. Guilherme II imperador alemão; 3. Francisco José I, imperador da Áustria; 4. cores da bandeira da monarquia de Habsburgo.

BIBLIOGRAFÍA:
VETTORI Giuseppe (ao cuidado de) Canzoni italiane di protesta. Newton Compton editori, Roma, 1974.

Me desculpo por qualquer falha na tradução portuguesa:
se você deseja comunicar comígo para correções e/ou comentários,
escreva-me

página criada em: 2 novembro 2009 e modificada pela última vez em: 5 novembro 2009